segunda-feira, 29 de novembro de 2010

100 dias

Quinta-feira passada completei 100 dias de Índia!
Acreditem em mim quando eu digo que não estou contando. Aliás, é difícil de perceber o tempo da mesma forma que antes. Tudo é intenso e há dias que tenho a impressão de estar aqui a minha vida inteira, e há dias que me assusto de já ter passado tanto...
Tantas coisas aconteceram e bem poucas consegui retratar aqui no Blog. Mas quem já passou por um intercâmbio sabe que as melhores partes você nem tenta reproduzir.
Hoje fazem 3 meses e 11 dias, 104 dias, 2.496 horas... é bom parar um pouquinho e olhar por tudo o que já passei...

Primeira Moradia

Chico e Paula
Meu primeiro lar dividido com o Chico e com a Paula, na época apenas dois estranhos passando dificuldades comigo. Eu tinha medo de sair do quarto sozinha e me assustava quando as pessoas ficavam me encarando na rua. Apesar do calor só andava de calça jeans e lenço cobrindo a cabeça. Minha alimentação era baseada em fast food e salgadinhos.

Primeiras festas e amigos

Jesus (Colombia) Basia (Polonia) Chico (Brasil) eu, David (Espanha) Vanessa (Brasil)
Demorou mas encontramos mais trainees na perdida cidade chamada Gurgaon. Foram nossos primeiros contatos com civilização e com certeza nos ajudaram muito a perder um pouco do medo que sentíamos.

A segunda moradia... o porão!

Porão

Apesar de ter reclamado tanto tive ótimos momentos no porão. Não voltaria para lá de forma alguma mas foi naquele cativeiro que comecei a vivenciar mais a Índia!

Um amor para a vida inteira

Eu e Vanessinha comendo Chapati!
Assisti esses dias “Antes do amanhecer”. O filme é gostoso de assistir e nos faz refletir sobre momentos e pessoas que nos marcam para o resto da vida independente se o reencontro irá acontecer.
A Vanessa foi exatamente isso para mim aqui. Foi apenas um mês convivendo todos os dias juntas mas sinto falta dessa maluca todos os dias desde então!

Taj Mahal e Jaipur

Vanessa e eu no Taj

Andrew, Vanessa, eu e Marika (a turma do porão!)


Viagens com pessoas maravilhosas para lugares incríveis. Andar de elefante, ver o Taj Mahal, conhecer Jaipur...

As primeiras despedidas

Despedida da peruana Alessandra



Não demora e as pessoas começam a partir. Vanessa, Marika, Alessandra, Basia, David, Jesus e não para... Não importa quem seja, se conviveu muito ou pouco, dizer adeus é sempre difícil... 
A gente força um até logo e sempre mantém aquela história de que “caso venha para o país X já sabe quem procurar”, “Você também tem que me visitar...”. Mas todos sabemos como é difícil manter contato.

Finalmente um lar

de pé da esq para direita: Chico, Andrew, Javed, Sasha, Alex. Sentadas: Alexandra, Paula e eu
Famoso Hex Tax C303


Demorou mas encontrei meu teto para morar. Mas além de paredes, janelas, cozinha, cama e banheiro encontrei uma família!
Como em qualquer casa temos brigas, problemas, risadas e todo o tipo de loucura! Tem aquecedor que quebra e fica só um banheiro para 7 pessoas. Tem comida que some. Tem dia de lavar roupa e tem gente que se recusa a lavar qualquer coisa...
Mas independente do que aconteça estamos juntos. E depois de uma segunda-feira caótica saber que você vai voltar e ter alguém pra conversar é sempre bom.

O trabalho

Caminhão TCI

Não demorei para aprender que a cultura de trabalho aqui é muito diferente do que estamos acostumados. Não se encontra trainee 100% feliz com o trabalho e não é porque a empresa é ruim ou algo do gênero, simplesmente é totalmente diferente.
O ambiente competitivo capitalista não é o mesmo aqui. A situação dentro dos escritórios parece muito mais estável mas não no bom sentido. Novas propostas são sempre ouvidas, mas serem implementadas é outra história. Não demora muito e a motivação fica guardada na mala para ser usada em viagens e outras ocasiões especiais. A regra é permanecer vivo até o fim para aproveitar o resto!
Não é tão ruim quanto parece, mas é um outro estilo de trabalho em que você aprende muito também. Diferente da mentalidade ocidental que compete com seu vizinho, seu amigo e até a sua sombra aqui o trabalho aparece como um complemento da vida e não o fim e si mesmo. As estruturas são tão rígidas e a meritocracia tão pouco usada que o trabalho é modo de subsistência. Claro que não é uma regra, mas na minha limitada visão foi isso que pude observar.
Ao mesmo tempo que a estrutura parece acomodada, la fora existe no mínimo 10 para fazer o mesmo trabalho que você cobrando menos. A troca de funcionários é constante aqui. Porém a mudança é basicamente horizontal e não vertical. Promoções e aumentos até onde eu compreendi são uma utopia.

Jaipur 2 e Rishikesh

Galera de Jaipur

Rishikesh - galera no Ganga

Viajar se torna um vicio! Aqui criamos uma rotina mas não podemos dizer que a vida é monótona. Porém as viagens revitalizam a vontade de ficar e aprender mais. Reforça laços de amizades, cria outros novos e como uma nova lua-de-mel voltamos mais apaixonados pela Incredible Índia!

E agora?

Pensando bem não passou muito tempo desde que cheguei. Pela proposta inicial estaria na metade do meu intercâmbio e já deveria estar me despedindo para seguir meu caminho para Cingapura.
Mas não quero dizer adeus... quero ficar! Quero continuar andar de Rickshaw, quero continuar a ler Bhagavad Gita e tentar entender mais sobre a cultura e religião, quero continuar ao lado da minha nova família, quero viajar mais, conhecer mais pessoas mas acima de tudo, quero me desafiar mais, e nunca estive em lugar que conseguisse fazer você olhar para si mesmo e refletir tanto como aqui. Tenho a certeza que não é somente a experiência do intercâmbio porque muitas das pessoas que conheci já moraram em muitos outros lugares e dividem a mesma opinião.
Eu achava que havia me apaixonado pela Índia e que como qualquer outra paixão você não se explica. Mas isso não é verdade. Os mesmos motivos que me faziam ter medo de sair do quarto quando cheguei são os motivos que me fizeram amar esse lugar. OS DESAFIOS!
Parte da magia que é esse país é a falta de planejamento. É impossível prever o dia de amanhã e minha situação não é diferente! Quanto tempo eu ainda vou ficar, se vou para Cingapura, se vou mudar de empresa, não sei dizer... Sei o que eu quero e estou batalhando para conseguir.

Mas como o filósofo Jagger já dizia: “You can’t always get what you want. But if you try sometimes, you Just might find you get what you need”.


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Rishikesh


Final de semana passado foi feriado aqui na India (prometo explicar o motivo do feriado posteriormente). Mas o que importava para nós (estrangeiros) era um dia de folga e a oportunidade de viajar!
Com ajuda do meu vizinho polonês (que está na India há cerca de 4 anos), "organizamos" a viagem para Rishikesh, cidade sagrada aos pés do Himalaia. 

A ida...

Estávamos em 15 pessoas (grupo grande de novo...), quinta-feira a noite olhando para a estação de ônibus!

Estação de ônibus
Como eu disse anteriormente era feriado e, aparentemente, nós não fomos os únicos a ter a brilhante idéia de viajar. Para ser bem honesta isso não era mais que o esperado já que o feriado em questão (Diwali) é equivalente ao nosso natal sendo crucial passar as festas com a família!
O preço do ônibus para ir até Rishkesh (cerca de 250 km de distância) é de 250 rúpias, ou seja, algo em torno de R$ 10,00. E o conselho dado pelo Karol (nosso guia experiente) foi mais ou menos isso:

"O ônibus vai chegar e a gente não sabe muito bem aonde, mas vamos ter que correr para pular no ônibus. Não há como reservar assentos no ônibus então abram os braços para ajudar a dar espaço para os outros e tentem garantir seus lugares ou passarão cerca de 6 horas de pé"

Reparem que o ônibus não é só lotado dentro...
 Devido ao feriado a frequência dos ônibus estava menor (o que não faz sentido) e tudo estava tão lotado que jamais conseguiríamos colocar 15 pessoas em um mesmo ônibus sentadas ou de pé!
Karol e outro amigo (que está aqui há 2 anos) foram negociar um "ônibus" particular! O preço subiu para 700 rs (R$ 27,00) mas só de saber que eu teria um lugar garantido valia a diferença!
Bom.. a verdade era que só cabiam 13 pessoas no ônibus e nosso motorista estava completamente bêbado! 
Era rir para não chorar! E de fato foi uma situação muito engraçada já que ao começarmos reclamar do motorista, o "gerente" da famosa lotação veio checar a veracidade das informações! Sabe aquele teste clássico que a mãe da gente faz quando chega em casa derrubando as coisas e falando alto??? Então, o famoso bafômetro caseiro! Diferente da minha mãe, o "gerente" não estava apto para realizar o exame. Motivo: o moço também estava bêbado!
Com mais conversa e muita paciência conseguimos mudar de carro e de motorista! A viagem foi tranquila... o motorista só parou 182 duas vezes ... o que considerei muito responsável, já que o motivo das inúmeras paradas era que ele estava exausto! Os 250 km foram percorridos em aproximadamente 8 horas! Quase um recorde de velocidade!

Finalmente Rishikesh!

Chegamos na cidade e ainda tínhamos que andar até nosso acampamento! 
A estrada era estreita e cheia de curvas o que deixa tudo mais divertido para quem esta na caçamba do carro!!!!

Paula, Karol e Alirio

Eu e Chico

Nosso acampamento era do outro lado do Ganga (rio Ganges) e o único acesso é de "barco" mesmo!
O lugar é incrível!

Em direção ao acampamento

Nosso acampamento
Não demorou muito para todos pularem na água, extremamente fria diga-se de passagem!

Quase todo mundo dentro do Ganga
Até arrisquei andar de caiaque! 

Praticamente profissional

Após o almoço (delicioso, by the way!) resolvemos fazer "tracking", ou seja, subir uma das montanhas a nossa volta! O guia nos disse que era cerca de meia hora e blá blá blá blá... eu só ouvia "se fudeu"! 
Antes de falar do tracking é bom deixar claro o quanto eu odeio andar! Sim... eu odeio andar! Agora subir montanha então... Eu sou do tipo de pessoa que dorme na sala para não ter que subir a escada para o quarto! Subir montanha definitivamente não é minha definição de divertimento! Mas vamos lá... 
Puta que o pariu!!!!!
O maldito do guia levou a gente pra escalar a merda do K2! Aquela montanha não tinha fim nunca! Sem contar que não demorou para eu ficar "ligeiramente" afastada do resto do grupo! 
Mas não estava preocupada com isso! Cada um tem o seu ritmo! O meu era um pouco mais lento,  aproveitando a vista, realizando algumas paradas para impedir um derrame ou algo do gênero.

Corrado esperando eu e Anu voltar a vida
Eu super feliz com o exercício!
Enquanto eu tentava dar mais 5 passos antes de descansar mais um pouco, Corrado decide fumar....
Não consegui chegar no topo! Desisti quando o grupo começou a descer...
A noite todos bebiam em volta da fogueira e eu, como uma boa atleta, fui dormir cedo... sedada por dorflex!!! 
Dia seguinte fomos fazer rafting no Ganga, 27 km percorridos!

Rafting time
Claro que tivemos um intenso curso sobre segurança e etc:
"Ponham os salva-vidas, o capacete e segurem firme o remo! Caso vocês caiam na água não entre em pânico e não largue o remo!" 
Curso feito!
Não me lembro de ter me divertido tanto! 

Todos na água acompanhando a corrente do rio!
Passamos praticamente o dia inteiro remando, nos divertindo e vendo paisagens lindas!!!



A última noite passamos no vilarejo em Rishikesh mesmo! Infelizmente não conseguimos aproveitar a cidade já que decidimos pegar o onibus cedo! Mas com certeza vou voltar para passar uns dias conhecendo a cidade!


Rishikesh é conhecida pelos seus centros de yoga e meditação

Ponte para o vilarejo!
Cenário da rede globo??? 
Paula super "tranquila" com a presença do macaco!








segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Jaipur Parte II – O fim de uma história de amor



De fato eu gostei tanto da cidade que resolvi voltar para mais um final de semana! Mas dessa vez foi uma turma bem grande! Quatro brasileiros, dois franceses, um ingles e um holândes.

Eu fiquei responsável por arrumar os taxis para nos levar até a cidade rosa! É triste como as pessoas tentam se aproveitar da minha história de amor com um taxista para arrumar um bom desconto. Já estava esperando eles me pedirem o endereço da loja de Saris para mais um bom negócio…
Conversei com o Raejesh, contei aquela história da brasileira vivendo na India com um salário muito baixo, passando fome, mais umas risadinhas e tudo combinado! Dois carros para oito pessoas, saindo de Gurgaon, passeando por todos os pontos turísticos e voltando para Gurgaon domingo final de tarde!
Confirmei mais uma vez o preço antes de saírmos para não encontrarmos surpresas no meio do caminho!
Tudo lindo! Saímos Sábado de madrugada e chegamos bem cedo para aproveitar a bela cidade rosa!


Por coincidência encontramos mais dois grupos de trainees (mais um brasileiro, outro francês e uma francesa, um alemão e uma alemã e um japonês) e ao todo nos tornamos 14 pessoas!


Não... não foi divertido! Para andarmos 10 passos era necessário sentar e discutir cerca de 40 minutos para tentar decidir a direção dos 10 passos! E claro que mesmo após o debate democrático sempre há os de extrema esquerda que estão lá só para ir de contra a qualquer proposta!
Final do dia, vimos quase nada, gastamos mais dinheiro, estávamos famintos e cansados! A única coisa que concordamos era irmos para o Hotel!
Mas calma... estamos na Índia! As decisões não dependem só de você (ou mesmo de outras 13 pessoas)! Existem muitas variáveis! A nossa aquele dia era o taxista, meu amado Raejesh!
A encrenca começou quando o Raejesh resolveu me pedir dinheiro para o hotel dele e do outro motorista... (??????????????????)

“Calma aí Raejesh, você me passou um preço fechado! Disse que estava tuuuudo incluso”
“Sim, tudo incluso menos meu hotel!”

Posso estar sendo ingênua... mas para mim tudo incluso significa TUDO incluso!
A situação piora quando a gente sabe que na verdade eles vão pegar o dinheiro que você daria para o hotel, embolsar e dormir no carro!
O mais desgastante não é discutir pelo dinheiro! Independente da quantia, ao dividirmos pelo número de pessoas que estávamos sairia uma mixaria para cada um! Mas o fato de ter que discutir porque você sabe que está sendo enganado e pior, discutir sobre algo que você é contra tira toda a sua energia! Para mim é um crime deixar o cara que está nos levando para cima e para baixo dormir dentro do carro enquanto eu estou em hotel, ainda mais se isso vai me custar apenas alguns trocados! A situação fica muito desgastante, já que você perde completamente o parâmentro do certo ou errado.
Final das contas, roubo ou não, mais pobre é difícil ficar! A consciência também é dele e é melhor buscar a ignorância em certas horas do que querer consertar o mundo!
Tudo resolvido, todos de acordo em pagar o hotel para os taxistas... agora então é só ir para o hostel!!!

NÃO! Claro que não! Estamos na Índia!

Lá vem o Raejesh de novo reclamando... (e depois meus pais dizem que eu reclamo demais).
Segundo o Raejesh o hostel que nós reservamos era uns 20 km da cidade, que estava lotada e com um trânsito caótico e que ele, nosso salvador, conhecia um bom hostel ali pertinho.
Ok, ainda não possuo graduação nos golpes indianos... mas esse é o mais manjado de todos! Levar turista para hotel que você tem comissão é o primeiro capítulo de como enganar um turista.
E começa outra briga! Sim... porque aqui a sua vontade não é relevante! Você tem que gritar e espernear até que esteja claro que é para o seu hotel que você vai! Não adianta olhar para a cara do indivíduo e falar que você não dá a minima para a distância, ele vai reclamar! Alias, não adianta argumentar! Ele vai reclamar! Nessa hora, como diz minha sábia tia, você precisa “por o pinto na mesa e se impor”. Pinto posto seguimos para o hostel!
Miraculosamente fizemos os 20 km de distância no trânsito caótico em menos de 5 minutos!
O que aprendi com isso??? Nem aqui na Índia o amor supera a ganância! Não sei se meu dote não era o suficiente, mas depois desse golpe dei por encerrado meu romance com o Raejesh! 
Mas tudo isso foi só a primeira parte do sábado!
Ainda tínhamos que decidir o que fazer a noite, decidir quem iria nos levar, o que iríamos comer… Era tanta gente e tanto palpite que claro não saimos do lugar! Acabamos aproveitando o terraço do hostel, compramos algumas cervejas e passamos a noite gastando assunto!
Acontece que quando você junta 6 brasileiros (sim, porque mais um brasileiro apareceu do nada!) não há como não se divertir! Pobres franceses que não entendem a graça de dizer “o papagaio está no seu pescoço”: Le Perroquet est dans son cou (pronunciando com sotaque carioca: La piroquê esta son cú).
Dia seguinte mais trapalhadas! Mas no final das contas estamos na India! Isso faz parte do pacote que compramos! Ninguém vai mudar a cultura de ninguém em um final de semana, nem em um ano… E nessa viagem pude observar outros trainees que tentando “civilizar” os indianos e o quanto isso é irritante e bizarro! Ao mesmo tempo pude ver que quando você deixa de lado a barreira ocidental e tenta sair um pouquinho do seu grupo para viver a experiência local você só tem a ganhar!

Agradecimentos especiais a esse maluco (corinthiano, tinha que ser) que sabe muito bem aproveitar a vida!


Um pouco mais de Jaipur…

Brazucas!