Quinta-feira passada completei 100 dias de Índia!
Acreditem em mim quando eu digo que não estou contando. Aliás, é difícil de perceber o tempo da mesma forma que antes. Tudo é intenso e há dias que tenho a impressão de estar aqui a minha vida inteira, e há dias que me assusto de já ter passado tanto...
Tantas coisas aconteceram e bem poucas consegui retratar aqui no Blog. Mas quem já passou por um intercâmbio sabe que as melhores partes você nem tenta reproduzir.
Hoje fazem 3 meses e 11 dias, 104 dias, 2.496 horas... é bom parar um pouquinho e olhar por tudo o que já passei...
Primeira Moradia
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Chico e Paula |
Meu primeiro lar dividido com o Chico e com a Paula, na época apenas dois estranhos passando dificuldades comigo. Eu tinha medo de sair do quarto sozinha e me assustava quando as pessoas ficavam me encarando na rua. Apesar do calor só andava de calça jeans e lenço cobrindo a cabeça. Minha alimentação era baseada em fast food e salgadinhos.
Primeiras festas e amigos
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Jesus (Colombia) Basia (Polonia) Chico (Brasil) eu, David (Espanha) Vanessa (Brasil) |
Demorou mas encontramos mais trainees na perdida cidade chamada Gurgaon. Foram nossos primeiros contatos com civilização e com certeza nos ajudaram muito a perder um pouco do medo que sentíamos.
A segunda moradia... o porão!
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Porão |
Apesar de ter reclamado tanto tive ótimos momentos no porão. Não voltaria para lá de forma alguma mas foi naquele cativeiro que comecei a vivenciar mais a Índia!
Um amor para a vida inteira
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Eu e Vanessinha comendo Chapati! |
Assisti esses dias “Antes do amanhecer”. O filme é gostoso de assistir e nos faz refletir sobre momentos e pessoas que nos marcam para o resto da vida independente se o reencontro irá acontecer.
A Vanessa foi exatamente isso para mim aqui. Foi apenas um mês convivendo todos os dias juntas mas sinto falta dessa maluca todos os dias desde então!
Taj Mahal e Jaipur
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Vanessa e eu no Taj |
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Andrew, Vanessa, eu e Marika (a turma do porão!) |
Viagens com pessoas maravilhosas para lugares incríveis. Andar de elefante, ver o Taj Mahal, conhecer Jaipur...
As primeiras despedidas
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Despedida da peruana Alessandra |
Não demora e as pessoas começam a partir. Vanessa, Marika, Alessandra, Basia, David, Jesus e não para... Não importa quem seja, se conviveu muito ou pouco, dizer adeus é sempre difícil...
A gente força um até logo e sempre mantém aquela história de que “caso venha para o país X já sabe quem procurar”, “Você também tem que me visitar...”. Mas todos sabemos como é difícil manter contato.
Finalmente um lar
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de pé da esq para direita: Chico, Andrew, Javed, Sasha, Alex. Sentadas: Alexandra, Paula e eu
Famoso Hex Tax C303 |
Demorou mas encontrei meu teto para morar. Mas além de paredes, janelas, cozinha, cama e banheiro encontrei uma família!
Como em qualquer casa temos brigas, problemas, risadas e todo o tipo de loucura! Tem aquecedor que quebra e fica só um banheiro para 7 pessoas. Tem comida que some. Tem dia de lavar roupa e tem gente que se recusa a lavar qualquer coisa...
Mas independente do que aconteça estamos juntos. E depois de uma segunda-feira caótica saber que você vai voltar e ter alguém pra conversar é sempre bom.
O trabalho
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Caminhão TCI |
Não demorei para aprender que a cultura de trabalho aqui é muito diferente do que estamos acostumados. Não se encontra trainee 100% feliz com o trabalho e não é porque a empresa é ruim ou algo do gênero, simplesmente é totalmente diferente.
O ambiente competitivo capitalista não é o mesmo aqui. A situação dentro dos escritórios parece muito mais estável mas não no bom sentido. Novas propostas são sempre ouvidas, mas serem implementadas é outra história. Não demora muito e a motivação fica guardada na mala para ser usada em viagens e outras ocasiões especiais. A regra é permanecer vivo até o fim para aproveitar o resto!
Não é tão ruim quanto parece, mas é um outro estilo de trabalho em que você aprende muito também. Diferente da mentalidade ocidental que compete com seu vizinho, seu amigo e até a sua sombra aqui o trabalho aparece como um complemento da vida e não o fim e si mesmo. As estruturas são tão rígidas e a meritocracia tão pouco usada que o trabalho é modo de subsistência. Claro que não é uma regra, mas na minha limitada visão foi isso que pude observar.
Ao mesmo tempo que a estrutura parece acomodada, la fora existe no mínimo 10 para fazer o mesmo trabalho que você cobrando menos. A troca de funcionários é constante aqui. Porém a mudança é basicamente horizontal e não vertical. Promoções e aumentos até onde eu compreendi são uma utopia.
Jaipur 2 e Rishikesh
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Galera de Jaipur |
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Rishikesh - galera no Ganga |
Viajar se torna um vicio! Aqui criamos uma rotina mas não podemos dizer que a vida é monótona. Porém as viagens revitalizam a vontade de ficar e aprender mais. Reforça laços de amizades, cria outros novos e como uma nova lua-de-mel voltamos mais apaixonados pela Incredible Índia!
E agora?
Pensando bem não passou muito tempo desde que cheguei. Pela proposta inicial estaria na metade do meu intercâmbio e já deveria estar me despedindo para seguir meu caminho para Cingapura.
Mas não quero dizer adeus... quero ficar! Quero continuar andar de Rickshaw, quero continuar a ler Bhagavad Gita e tentar entender mais sobre a cultura e religião, quero continuar ao lado da minha nova família, quero viajar mais, conhecer mais pessoas mas acima de tudo, quero me desafiar mais, e nunca estive em lugar que conseguisse fazer você olhar para si mesmo e refletir tanto como aqui. Tenho a certeza que não é somente a experiência do intercâmbio porque muitas das pessoas que conheci já moraram em muitos outros lugares e dividem a mesma opinião.
Eu achava que havia me apaixonado pela Índia e que como qualquer outra paixão você não se explica. Mas isso não é verdade. Os mesmos motivos que me faziam ter medo de sair do quarto quando cheguei são os motivos que me fizeram amar esse lugar. OS DESAFIOS!
Parte da magia que é esse país é a falta de planejamento. É impossível prever o dia de amanhã e minha situação não é diferente! Quanto tempo eu ainda vou ficar, se vou para Cingapura, se vou mudar de empresa, não sei dizer... Sei o que eu quero e estou batalhando para conseguir.
Mas como o filósofo Jagger já dizia: “You can’t always get what you want. But if you try sometimes, you Just might find you get what you need”.